COVID19: Ministros da Agricultura dos países da América do Sul pretendem harmonizar normas para o transporte de cargas durante a pandemia de coronavírus. O assunto foi discutido na segunda-feira (23/3), em reunião do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), feita por videoconferência. De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa), será elaborado um documento com normas conjuntas.
Os ministros também abriram um canal de comunicação pelo Whatsapp para troca de informações e solução mais rápida de problemas. “É indispensável nosso alinhamento no mais alto nível político, que deverá também se refletir em instruções ágeis e claras para o plano operacional, sobretudo para a ponta, as autoridades fronteiriças”, disse a ministra Tereza Cristina, conforme a pasta.
Segundo o Mapa, participaram da reunião virtual os ministros Luis Eugenio Basterra (Argentina), Antonio Walker Preito (Chile), Rodolfo Max Friedmann Alfaro (Paraguai), Carlos Maria Uriarte (Uruguai), Jorge Luis Montenegro Chavesta (Peru) e Beatriz Eliane Capobiano Sandoval (Bolívia), além de representantes dos ministérios brasileiros da Infraestrutura e das Relações Exteriores.
O Mapa informa, no comunicado, que houve uma garantia de todos os participantes de que as fronteiras rodoviárias estão fechadas apenas para passageiros de outros países. Mas o transporte de cargas está garantido. Tereza Cristina defendeu também a manutenção dos corredores sanitários de todos os países para assegurar não apenas as exportações como o abastecimento local.
De acordo com a pasta, o Brasil exportou para os países da América do Sul o equivalente a US$ 3,7 bilhões em produtos agropecuários em 2019 e importou US$ 5,8 bilhões no período. “Precisamos nos antecipar ao que pode ocorrer, caso a situação piore”, disse Tereza Cristina.
Infraestrutura
A ministra participou também na segunda de videoconferência do Ministério da Infraestrutura com o Conselho Nacional dos Secretários de Transporte, que reúne os chefes dessas áreas nos Estados e no Distrito Federal. Segundo o relato da pasta da Infraestrutura, Tereza Cristina pediu a livre circulação de linhas privadas que transportem os trabalhadores do agronegócio e destacou a importância da manutenção dos corredores de escoamento da produção.
“A gente tem uma preocupação com os caminhoneiros, que são fundamentais para o agronegócio. Nós não conseguimos rodar sem eles. Nossa preocupação é que eles tenham pontos para abastecer, para comer, postos que possam atender quem tiver problemas de saúde”, disse Tereza Cristina, de acordo com a nota do Ministério da Infraestrutura.
Além de conversar com os secretários de Transporte, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, participou, também na segunda-feira (23/3), de videoconferência com governadores dos Estados do Sul e do Sudeste para discutir uma cooperação para evitar bloqueios em rodovias. Segundo o Ministério da Infraestrutura, já há consenso em relação a decretos estaduais para livre circulação de cargas e manutenção de serviços. O apelo deve ser estendido a prefeitos.
“Se matarmos o transporte rodoviário de carga, teremos o efeito da greve de 2018 somado à crise do coronavírus. Estamos vendo justas homenagens aos profissionais da saúde e da segurança pública, mas está na hora de homenagearmos também os profissionais do transporte de cargas”, disse o ministro Tarcísio Gomes de Freitas, de acordo com o Ministério da Infraestrutura.
Preocupações
As reuniões foram feitas em meio às preocupações com o transporte de bens essenciais, em função de medidas de isolamento e quarentena determinadas no Brasil e em outros países. Preocupações reforçadas por conta de decisões de fechamento de fronteiras e informações sobre restrições em terminais portuários.
No Brasil, a administração do Porto de Paranaguá (PR) adotou medidas preventivas, mas garante que as operações de carga e descarga no terminal não serão afetadas. Em Santos (SP), trablhadores chegaram a ameaçar uma paralisação das atividades, pedindo condições adequadas de trabalho. Uma assembleia chegou a ser marcada para segunda-feira (23/3), mas não foi realizada.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) anunciou a flexibilização de medidas relacionadas à circulação de cargas terrestres. Foram prorrogados prazos de registros e foi dispensada a apresentação de documentos necessários para a autorização de operações de transporte de carga.
Representações do agronegócio têm se manifestado publicamente, procurando garantir que não haverá interrupção da produção. Empresas de alimentos, inclusive, têm feito campanhas pedindo que a população atenda às recomendações das autoridades de saúde enquanto as atividades produtivas são mantidas. Ao mesmo tempo, as entidades têm pedido a garantia de infraestrutura necessária para o transporte de mercadorias.
“Todas essas ações, em conjunto com medidas necessárias para a preservação da saúde dos profissionais envolvidos nos diversos elos da cadeia de alimentos, vão permitir que o Brasil possa enfrentar a crise epidemiológica e garantir a manutenção do abastecimento”, argumentou, em nota, a Aprosoja Brasil, na segunda-feira (23/3).
Contêineres e graneis
Entre segmentos exportadores, um dos pontos de incerteza é a escassez de contêineres, especialmente o refrigerados, que viabilizam o movimento de produtos, como proteína animal. Por conta das restrições na China, muitos ficaram parados nos portos do país. Representantes do setor de logística estimam uma redução de pelo menos 10% na movimentação de contêineres até o fim do mês.
“O gargalo logístico no fluxo de produtos é o fator mais preocupante para o desempenho das exportações”, avalia o consultor Maurício Palma Nogueira, da Athenagro, especialista em mercado de carnes, em publicação divulgada pela rede social Linkedin.
Segundo ele, a produção de carnes bovina, suína e de frango do Brasil deve superar o consumo em 38% neste ano. A estimativa já considera a produção contratada e com operações em andamento na fazenda. Se há risco de desabastecimento, diz ele, deve ficar para os anos seguintes. Se o setor não conseguir exportar o excedente desse ano, o prejuízo pode ter efeito no futuro.
“Por isso, é fundamental que medidas governamentais não dificultem as operações de logística e exportação de mercadorias. São setores essenciais”, afirma o consultor, na postagem.
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Também via Linkedin, o consultor Carlos Cogo divulgou na segunda-feira (23/3) um trabalho destacando que, pelo menos até o momento, não houve diminuição expressiva no comércio agropecuários do Brasil com outras regiões, como a China ou a União Europeia. As medidas restritivas dos países estão mais relacionadas ao movimento de pessoas do que de mercadorias.
No caso dos chineses, o comércio de grãos, óleos e alimentos aumentou 9,7% nos meses de janeiro e fevereiro. Mas o cancelamento de rotas marítimas resulta em atrasos no transporte internacional de mercadorias.
“O surto de coronavírus interrompeu as atividades industriais na China, reduzindo a demanda por navios de granel seco. Mas a demanda chinesa por farelo e óleo de soja deve ter rápida recuperação. A China continua suas compras de soja no primeiro trimestre de 2020”, diz Cogo, na apresentação.
Para o consultor, o excesso de oferta de transporte de cargas secas e a queda nas cotações do petróleo devem limitar os preços do frete de grãos, o que pode ser positivo para os países importadores. No primeiro trimestre, o frete marítimo de grãos ainda está mais caro em comparação com o mesmo período no ano passado, pontua Cogo. Mas os preços dos combustíveis das embarcações caíram, pressionados pela baixa do petróleo no mercado internacional.
“O aumento da frota de carga seca a granel em ritmo acima da demanda em 2020 por causa da pandemia e esse excesso de capacidade resultarão em fretes mais baixos, benéficos para os processadores de grãos e oleaginosas na Ásia”, diz ele, no trabalho postado em seu perfil na rede social.
Fonte: Globo Rural