A utilização das ferrovias para a movimentação de cargas pelo Porto de Santos, no litoral de São Paulo, cresceu cerca de 42% nos últimos seis anos. Atualmente, esse modal é responsável por transportar 26,3% do volume total de cargas movimentadas no maior porto do Brasil. Os dados são da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).
Segundo o levantamento, em 2011, cerca de 21 milhões de toneladas/úteis foram movimentados pelo modal ferroviário no Porto de Santos, o que representa 21,7% da carga total movimentada pelo cais santista. Em 2016, esse número subiu para 29 milhões de toneladas/úteis, ou seja, 26,3% das cargas que passaram pelo Porto. No ano passado, mesmo o cais santista tendo registrado uma queda de -5,1% na movimentação de cargas, a participação ferroviária no transporte de cargas aumentou 1,1% em relação a 2015. A estimativa, segundo a Codesp, é que a utilização do transporte ferroviário salte dos atuais 26,3% de participação para 40% em 2025.
Entre as cargas movimentadas, destaca-se o açúcar a granel, que corresponde a 34% do total transportado em vagões, depois vem a soja (23,1%) e o milho (21,8%). Em seguida, o farelo de soja (11,4%), a celulose (4,9%) e os contêineres (2,3%). Além desses produtos, são transportados também, em menor quantidade, mercadorias como sal (0,9%), enxofre (0,7%) e adubo (0,1%).
Infraestrutura Segundo a especialista em logística Thais Helena Perciavalli, a ferrovia é um meio menos poluente e consegue transportar mais volume de carga que os outros veículos. Outra vantagem é que o transporte realizado pelo modal ferroviário é até 35% mais barato que o rodoviário. Ela explica que, além disso, as ferrovias têm sido uma ótima alternativa para os produtores, principalmente, de estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que precisam exportar os grãos colhidos e vêem o Porto de Santos como uma ótima porta de saída.
“O caminhão anda mais rápido, mas tem muito congestionamento e a linha férrea mesmo sendo mais lenta, se você tem um prazo, consegue obedecer. É muito mais vantajoso tanto para a exportação e importação. Ainda é mais seguro, sofre menos avarias e assaltos. O caminhão tem todos esses problemas”, diz. Porém, segundo a especialista, para sustentar o crescimento na movimentação de cargas pelo modal ferroviário, há a necessidade de solucionar alguns gargalos de infraestrutura para garantir a fluidez na circulação dos trens no entorno do Porto de Santos.
“O trem dentro do Porto circula junto com os caminhões, não foi planejado. Primeiro veio o porto e, depois, a cidade. Tem projetos são ótimos, mas não saem do papel porque são barrados por problemas políticos, ambientais e burocracias de outros órgãos que acabam atrapalhando”, falou. Segundo a especialista, a tendência é que aumente a participação do modal ferroviário no país, a partir das empresas que estão se candidatando para manter as concessões das linhas férreas. “Só que demora mais para montar a infraestrutura. Construir pontes, mergulhões. Só no Estado de São Paulo, cerca de 30% do que a gente transporta chega de trem. O maior custo logístico do comércio exterior está no transporte. Se consegue reduzir isso, consegue ter produtividade maior, reduzir os custos e pode trazer de volta clientes que optaram em exportar por outros Portos”, diz.
“Movimentar mais cargas no Porto de Santos é um desafio por causa do espaço físico e da forma como o porto e a cidade cresceram juntos. Precisa transformar o porto que foi desenhado para uma logística diferente, da época do café, e transformar em um porto para a logística que temos hoje, de grande volume. O porto foi criado para vagões de 80 toneladas e hoje temos vagões com 130 toneladas. É uma realidade diferente”.
Um dos investimentos necessários, é a triplicação da linha férrea na Alemoa e a capacitação das pontes para eliminação das locomotivas antigas para ter mais confiabilidade no sistema e conciliar o desenvolvimento do modal e da cidade.
“O trem poderia sair da Alemoa, ir direto e chegar até a Ponta da Praia, sem interrupção de tráfego. O que estamos fazendo é a capacitação de malhas, novas locomotivas, vagões e extensões da malha. São obras que geram uma movimentação imensa. O país precisa de investimentos, seja com financiamento externo ou interno, para dar um salto. O que precisa é pensar no retorno de longo prazo”, afirmou.
Fonte: Portos e Navios