Não existe uma medida clara do que compõe o Custo Brasil, mas percebemos esse “custo” nas dificuldades enfrentadas pelas empresas com relação aos altos impostos e taxas, sistemas trabalhista, previdenciário e fiscal complexos e pesados, infra-estrutura deficiente (por exemplo: rodovias, portos), corrupção e impunidade em diversos setores da sociedade, déficit público, taxa de juros elevada, dentre outros.
Para efeito de exemplo, a carga tributária que incide sobre a economia brasileira é de aproximadamente 40% do PIB (Produto Interno Bruto), uma das mais altas do mundo.De acordo com um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) de 2010, o Custo Brasil faz com que um mesmo produto agrícola seja produzido no Brasil com preço 36% maior do que nos EUA e Alemanha.
Entre os componentes do Custo Brasil medidos pela Abimaq estão o impacto dos juros sobre o capital de giro, que na média gera custo 7,95% superior ao dos concorrentes internacionais, e preços de insumos básicos, cuja diferença de custos é de 18,57% entre a produção nacional e a americana e alemã. Outros fatores de custo adicional: impostos não recuperáveis na cadeia produtiva (2,98%), encargos sociais e trabalhistas (2,84%), logística (1,90%), burocracia e custos de regulamentação (0,36%), custos de investimento (1,16%) e custos de energia (0,51%).
Na área de transportes, temos dois sérios problemas no Brasil: o roubo de cargas e a precária infra-estrutura logística.
Sobre a infra-estrutura temos diversos artigos aqui no Logística Descomplicada que debatem esse tema: infra-estrutura das rodovias no Brasil, gargalos podem nos levar ao apagão logístico, infra-estruturas de transportes: caso Brasil e logística brasileira – qual nossa situação?
Complementando essa série de informações, destaco um número que desafia o bom senso, ainda mais quando se trata do escoamento de uma das principais fontes de recursos externos para o Brasil: o escoamento do agronegócio.
Apesar de todos os avanços do agronegócio (mais tecnlogia, maior profissionalização, maior produtividade) o presidente de uma grande empresa de terras agrícolas no Brasil destaca que a falta de infra-estrutura é gritante: o transporte rodoviário da soja cultivada no Mato Grosso até o porto de Santos, por exemplo, tem um custo três vezes maior que o frete cobrado para levar a commodity do Brasil à China. Você leu certo. É mais barato mandar a soja pro outro lado do planeta que transportá-la aqui dentro do país.
O quesito roubo de carga não deixa de ser também relevante e importante. De acordo com a Fenseg (Federação Nacional dos Seguros Gerais), a situação é tão grave que algumas seguradoras têm saído da área ou se recusado a fazer apólices de empresas de setores como eletroeletrônicos, celulares e medicamentos.
O roubo de cargas no estado de São Paulo, por onde circulam 53% das cargas transportadas no país, cresceu 23% no primeiro semestre do ano passado.
Segundo Paulo Roberto de Souza, coronel reformado do exército e assessor de segurança da federação e da associação nacional de transportes, os custos com seguros e medidas de gerenciamento de risco das empresas giram entre 12% e 15% com relação ao faturamento anual, em média. “Mas conheço empresas de grande porte nas quais o valor chega a 17% do total”, diz Souza.
Isso faz com que parte do dinheiro que poderia ser investido em outras áreas, precise ser direcionado para segurança. Uma grande transportadora do país declarou recentemente que destina 10 milhões de reais para segurança.
Enquanto parte deste recurso vai para rastreamento e comunicação via satélite, que realmente agrega valor para o cliente, parte dele precisa ser alocado em escolta e seguros cada vez mais caros.
Assim, sem segurança também nas estradas e com uma péssima infra-estrutura de transportes, vamos perdendo competitividade e nossas empresas deixam de crescer. É com elementos como esses que se compõe o Custo Brasil.
Fonte: Estadao, Folha de S. Paulo, Portal Exame
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