A Teoria das Restrições e os Gargalos em sua Operação

A Teoria das Restrições e os Gargalos em sua Operação

A busca constante das empresas pelo aumento da lucratividade e da competitividade leva à necessidade da utilização cada vez mais eficaz dos seus recursos.

Uma forma de satisfazer a essa necessidade é a alteração no modo como as tarefas são alocadas nos recursos produtivos, o que pode ser obtido utilizando-se o método de programação da produção proposto pela Teoria das Restrições: o Tambor-Pulmão-Corda (TPC), aliado às técnicas de Gerenciamento de Pulmões. O TPC tem a função de programar a produção em função da restrição do sistema, e o Gerenciamento de Pulmões permite o controle do que foi planejado pelo TPC.

Neste artigo, o TPC e o Gerenciamento de Pulmões são apresentados, através de revisão bibliográfica de livros e artigos sobre o tema. Em seguida, propõe-se um roteiro para implementação dessas ferramentas. Posteriormente, são apresentadas as conclusões do estudo. A principal contribuição deste trabalho é a desmistificação do Tambor-Pulmão-Corda e do Gerenciamento de Pulmões, através da apresentação de uma proposta prática e detalhada de implementação, na forma de um roteiro em sete etapas.

A busca pela competitividade e a crescente integração dos mercados, aliada à procura incessante por maior lucratividade, levam as empresas a buscar por alternativas que reduzam seus custos e aumentem seus ganhos, criando diferenciais em relação à concorrência. Nesse contexto, as áreas de produção e logística industrial – atividades centrais das empresas industriais – são alvos constantes de iniciativas de melhoria.

Os conceitos apresentados por Eliyahu M. Goldratt com a publicação do livro “A meta”, em 1984, ganharam destaque no meio empresarial. No livro, Goldratt apresenta a Teoria das Restrições e introduz a metodologia de programação da produção chamada de “Tambor-Pulmão-Corda” – TPC. Essa metodologia propõe que a produção seja programada em função das restrições.

O TPC tem contribuído efetivamente para o aumento da produtividade das empresas que resolveram seguir os seus princípios, e isto se deve à diretriz de manter o foco na meta principal da empresa: ganhar mais dinheiro hoje e no futuro. Permanecem, no entanto, dúvidas com relação ao processo de implantação, desafios a enfrentar e impactos que o método pode gerar.

O TPC permite o aproveitamento máximo da restrição do sistema e sincroniza a liberação de materiais na fábrica de acordo com o consumo na restrição, aumentando o ganho e reduzindo o nível de inventário logo após a implementação. O Gerenciamento de Pulmões garante a dinâmica esperada do TPC e possibilita a melhoria contínua de todo o sistema. Uma das maiores vantagens desse método é sua rápida e fácil implementação, seguida de resultados significativos no curto prazo.

Este artigo tem como objetivo propor um roteiro de fácil compreensão que possibilite a implantação do TPC. Durante sua apresentação será possível visualizar os impactos que o TPC pode gerar na empresa como um todo. Para isso, é feita uma introdução à Teoria das Restrições, seguida pela apresentação do método Tambor-Pulmão-Corda e das técnicas do Gerenciamento de Pulmões. Como resultado do estudo, propõe-se um roteiro prático, com etapas objetivas, que permitem ao gestor implementar o método com eficácia.


A Teoria das Restrições

A Teoria das Restrições (TOC – Theory of Constraints) foi desenvolvida pelo físico israelense Eliyahu M. Goldratt, que procurou utilizar a lógica de raciocínio utilizada na Física para explicar os fenômenos que acontecem nas organizações, especialmente nas industriais. A maior contribuição de Goldratt foi dar destaque ao fato de que todo sistema produtivo contém uma restrição, e esta determina sua capacidade. A partir daí, ele concentrou-se em desenvolver ferramentas que permitissem o gerenciamento otimizado das restrições, e consequentemente do sistema.

As restrições podem ser de ordem física, como a demanda, o fornecimento de matérias-primas ou uma das etapas do processo produtivo, ou gerencial, como procedimentos, políticas e normas. Um dos pressupostos da TOC é de que todo sistema, tal como o de uma empresa que visa lucros, tem pelo menos uma restrição. Sendo assim, para melhorar o desempenho do sistema é preciso administrar a restrição. Se o sistema não possuísse uma limitação, ele poderia atingir resultados infinitos, o que não ocorre na prática.

Corbett (1997) afirma que “a Teoria das Restrições nasceu como uma abordagem sistêmica cujo ponto de partida é o fato de que todo sistema possui um objetivo”, que é ganhar mais dinheiro hoje e no futuro.

A Teoria das Restrições possui como ferramentas três grandes grupos: logística, medidas de desempenho e processos de raciocínio, que são capazes de auxiliar no entendimento dos aspectos ligados ao objetivo principal das organizações. A fim de obter os resultados esperados do sistema, a TOC leva em conta dois fenômenos comuns na realidade das organizações: a interdependência das tarefas a serem realizadas e as flutuações estatísticas contidas nos processos.

Dentro do campo chamado “logística” da Teoria das Restrições existem as seguintes ferramentas: processo de focalização, processos de programação (Tambor-Pulmão-Corda e  Gerenciamento de Pulmões) e análise V-A-T (COX & SPENCER, 2002).

O processo de focalização é uma metodologia que define cinco etapas para tratar devidamente a restrição. São elas:

  • Identificar a restrição do sistema;
  • Explorar a restrição do sistema;
  • Subordinar tudo a decisão anterior;
  • Elevar a restrição do sistema;

Se na etapa anterior uma restrição foi quebrada, não permitir que a inércia seja a nova restrição e iniciar o processo novamente. Os processos de programação permitem liberar na quantidade e momento adequados os materiais para cada um dos recursos de produção. O TPC (Tambor-Pulmão-Corda) permite a manutenção do fluxo de materiais em todo o sistema, protege a restrição da ociosidade por falta de materiais e limita a quantidade de materiais em processamento no sistema.

A análise V-A-T é um instrumento que leva ao entendimento das inter-relações no processo produtivo e permite aos gestores uma visão sistêmica dos processos.

Para saber se a organização está se aproximando de sua meta com as ações que ela promove, é necessário que se estabeleça um sistema de avaliação de desempenho dessas ações, capaz de refletir o grau com que a empresa vem alcançando sua meta. Para isso, a TOC propõe um pacote de medidas que, em conjunto, realizam essa avaliação. Esse pacote se divide entre os indicadores de ganho, inventário e despesas operacionais, na decisão sobre o mix de produtos e também nos indicadores de ganho dólar/dia e inventários dólar/dia.

Segundo Goldratt (2002), o ganho é definido como a taxa na qual o sistema gera dinheiro através das vendas. Inventário é todo o dinheiro que o sistema investiu na compra de itens que tem a intenção de vender e a despesa operacional é todo o dinheiro que o sistema gasta para transformar inventário em ganho. A TOC defende que a decisão referente ao mix de produtos se baseie no lucro por tempo despendido na restrição, e não na alocação de custos indiretos, como é feito na contabilidade tradicional.

Por fim, para Noreen (1996), as medidas de ganho dólar/dia, que medem a falha em atender pedidos específicos nas datas estabelecidas, e inventário dólar/dia, que mede o excesso de inventários, servem para facilitar as tomadas de decisões a nível operacional.

O desdobramento mais recente da Teoria das Restrições se dá com os Processos de Raciocínio. Os Processos de Raciocínios da TOC são um conjunto de ferramentas que permitem identificar, analisar e propor soluções aos problemas organizacionais (ANTUNES et al., 2004). Essas ferramentas são: Diagrama Efeito-Causa-Efeito (ECE), Árvore da Realidade Atual, Auditoria ECE e Diagrama de Nuvens.

Os Processo de Raciocínio são baseados no método científico genérico, que busca responder as perguntas:

O quê mudar? Para o quê mudar? Como provocar a mudança?

De acordo com Cox & Spencer (2002), o diagrama Efeito-Causa-Efeito (ECE) é utilizado para determinar a causa central ou raiz (frequentemente uma política, um método, ou alguma restrição não física), através da adoção de uma causa hipotética para os efeitos observados, que pode estar causando muitos sintomas indesejados. Posteriormente, o processo de auditoria ECE serve para testar e fortalecer os relacionamentos propostos nos diagramas ECE, com aplicação de regras da lógica.

Finalmente, o Diagrama de Nuvens é usado principalmente para a identificação de pressupostos ocultos que podem estar bloqueando acordos que beneficiem ambas as partes (soluções ganha-ganha). A lógica dos Processos de Raciocínio é focada nas relações de efeito-causa-efeito e na visão crítica da realidade.

Para Corbett (1997) “a TOC é baseada no princípio de que existe uma causa comum para muitos efeitos, de que os fenômenos que vemos são consequências de causas mais profundas. Esse princípio nos leva a uma visão sistêmica da empresa”.

Autores: Janaina Basilia, Luiz Guilherme von Atzingen, Neimar Follmann, Carlos Taboada.

 

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