A logística é um dos setores que mais vem ganhando força e espaço no Brasil nos últimos anos. E esse avanço, certamente, é reflexo da expansão do e-commerce, que tem apresentado um crescimento exponencial. Só em 2017, este mercado evoluiu 12% e faturou R$ 59,9 bilhões no período, de acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).
Ainda de acordo com a ABComm, para 2018, a projeção de aumento das vendas online é de 15%, chegando a um faturamento de R$ 69 bilhões. Além disso, a expectativa para o setor logístico no País é de gerenciar, ao longo do ano, mais de 220 milhões de pedidos. E estes números só tendem a crescer.
Com a retomada da economia e o aumento da confiança dos consumidores em efetuarem compras em lojas virtuais, a logística acompanha essa tendência e mostra a sua importância. Porém, mesmo com uma expansão acelerada, o setor tem muitos desafios a serem superados em nosso País.
Para começar, a deficiência na infraestrutura é um dos maiores gargalhos que o Brasil enfrenta quando o assunto é logística. A falta de boas estradas para as transportadoras, carência de estrutura das vias para os caminhões e a falta de segurança prejudicam toda uma frota de entrega. Questões que precisam ser revistas pelos órgãos públicos com a máxima urgência.
Em 2017, foi investido apenas 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) em infraestrutura, o que representa a taxa mais baixa da história do País, aponta levantamento do Infra2038. Se compararmos este aporte com o desenvolvimento do e-commerce (12% no último ano), este volume não tem representatividade alguma.
Além da infraestrutura defasada que o Brasil oferece, a ausência de conexões dos diferentes modais também impacta diretamente o segmento. Mesmo o estado de São Paulo, que conta com o Porto de Santos, responsável pela mais elevada movimentação de carga do País, e com o Aeroporto de Guarulhos, considerado um dos mais relevantes do mundo, a malha rodoviária é a que concentra a maior parte das demandas de entregas, deixando os transportes ferroviário, hidroviário, dutoviário e aeroviário com as menores escalas. E essa é uma dor que reflete em todo o mercado.
A greve dos caminhoneiros foi um bom exemplo de que qualquer falha na malha rodoviária pode ser fatal. Este é um gap que precisamos suprir imediatamente. Um país inteiro não pode depender de apenas uma forma de transporte, sendo que existem outras maneiras tão eficientes quanto. Construir uma malha multimodal é a estratégia mais plausível. Entregas de longa distância, por exemplo, poderiam ser realizadas por trens ou aviões. Porém, hoje, mesmo estas encomendas se concentram quase em sua totalidade no transporte rodoviário.
Precisamos pensar em ações de longo prazo para quebrar todos estes paradigmas. Nesse sentido, podemos nos inspirar em iniciativas bem-sucedidas de países que reverteram situações de crise bem mais graves do que as que vivenciamos. O Japão é um dos maiores exemplos de investimento em infraestrutura da história moderna. Após algumas de suas principais cidades serem devastadas por bombas atômicas, o país se reergueu em menos de 50 anos.
A logística urbana também é muito complexa em nosso País. As cidades carecem de espaços reservados para carga e descarga de mercadorias, existem horários específicos para movimentação de caminhões dentro dos centros urbanos, sem falar nos espaços comerciais, que também precisam ser abastecidos pelas transportadoras, mas poucos têm áreas específicas de recebimento.
O Brasil poderia seguir tendências de países, como os Estados Unidos, que encontraram soluções para esses problemas. A cidade de Nova York aderiu a estratégia de entregas noturnas como forma de poupar os transportadores de inúmeras restrições e, até mesmo, do trânsito matutino, o que facilita o acesso e o estacionar, já que as ruas estão mais vazias no período da noite.
Aqui no Brasil, muitas empresas já apostam em tecnologia para minimizar os desafios logísticos. Adotar inteligência na roteirização, investir em rastreamento de encomendas, prevenção de ocorrências e apostar em ferramentas que mapeiam os locais em que a infraestrutura está extremamente ineficiente, por exemplo, são soluções que facilitam a rota dos transportadores e reduzem os atrasos na entrega.
Dia após dia, a tecnologia tem evoluído. Não sabemos quais serão os recursos disponíveis daqui a cinco ou 10 anos, porém, temos que seguir esta tendência e adaptar o que já temos ao nosso dispor para tornar o setor mais eficiente.
E todo este movimento é muito bom para a logística, pois se a demanda aumenta, os holofotes recaem sobre o setor. Com isso, podemos abrir precedentes para captar recursos junto aos órgãos públicos e, principalmente, de investidores da esfera privada, que estejam interessados em promover melhorias reais e duradouras.
Em resumo, o Brasil tem muito potencial para aprimorar a sua logística. Todavia, precisa voltar a atenção para esta área e entender a sua importância para o desenvolvimento econômico do País. Investir em infraestrutura e empregar tecnologia é a chave para o início de uma grande mudança.
*Felipe Galheigo é coordenador de logística na Mandaê, empresa de tecnologia especializada em logística. É engenheiro de produção e mestre em Marketing Internacional com especialização em empreendedorismo
Fonte: Estadão